janeiro 25, 2024

Dra. Ana D’Arc Martins de Azevedo

Falar de educação ribeirinha na Ilha de Marajó é dialogar com a Amazônia em contextos mais amplos, buscando caracterizar uma floresta extensa e complexa, que, por meio de movimentos naturais, impacta o cotidiano das pessoas que habitam nela.

Marajó é uma grande ilha localizada no norte do Estado do Pará, mais precisamente entre a foz do rio Amazonas e o oceano Atlântico. Essa localização faz da ilha uma importante referência em termos de hábitos e costumes, em torno de uma economia singular e com diversidade, tendo sua constituição histórico-cultural pautada nos processos de povoação portuguesa.

Caracterizar a educação ribeirinha em solo marajoara é considerar, muitas vezes a existência de classes multisseriadas funcionando sem apoio pedagógico, necessitando de uma adaptação curricular que possa propor estratégias inovadoras e criativas para essa realidade; de escolas funcionando em espaços improvisados e inadequados para as aulas; de salas muito quentes cobertas com telhas inapropriadas para o clima tropical e de uma coordenação pedagógica sediada nas secretarias dos municípios, logo distantes das escolas ribeirinhas chamadas “anexos”.

São características problemáticas que emperram e dificultam o processo curricular de valorização local, não considerando que saberes e práticas educativas podem se entrelaçar em redes conectivas e plurais, possibilitando a promoção de um currículo escolar que possa ir além das paredes das escolas, a fim de alcançar a floresta, os moradores mais antigos que possuem memórias ancestrais consolidadas.

Esse cotidiano pede uma educação mais contextualizada e integrada com o social, cultural e político, pois é nesse contexto que perpassam realidades ricas de diversidade e memórias, que podem gerar um currículo local de narrativas e saberes tradicionais, muitas vezes “ameaçados” no cotidiano escolar.

A educação ribeirinha à luz dos contextos históricos e socioculturais, evidencia a relação relevante para o fortalecimento dessa identidade pela vinculação de consciência crítica, no sentido de elevar as comunidades ribeirinhas, na sua diversidade, para mais perto das escolas que funcionam nesses campos.

É possível perceber a divergência ao relacionar as características educativas abordadas, as possibilidades curriculares e a localização geográfica. É considerar rupturas de dicotomias para uma educação ribeirinha mais inclusiva e plural, pressupondo pensar em políticas públicas em educação urgentes e necessárias, por meio de investimentos no campo da infraestrutura, buscando reformar e construir escolas com condições e funcionamentos adequados, bem como de programas e projetos que possam planejar ações e estratégias que ofereçam caminhos e alternativas para os educadores que atuam em escolas ribeirinha em solo marajoara.

São análises e reflexões numa perspectiva de adoção de conteúdos e práticas pedagógicas, nas quais se respeitem as diferenças e as características próprias de contextos históricos e socioculturais. São possibilidades que justificam um poder político mais participativo e de professores mais autônomos no que se refere à valorização educação ribeirinha na Ilha de Marajó.

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